sexta-feira, 8 de maio de 2015

Keyla


- Alô?!
- Keyla?!
- Não, você se enganou, aqui é Antônia…
- Keyla, não desliga, sei que é você!
- Quem é?
- Abílio! Lembra? O Abílio da depilação. Da xiboquinha, lembra? Porra, Keyla, é o Bibi!
- Tá, já lembrei! Quer o que, Bibi?
 - Fora ser chamado de Bibi de novo, quero você de maiô dourado, corpitcho hidratadinho, coberta de glitter, mascando aquele trident de melancia…
- Jesus! Esse produto saiu de circulação, só lamento – diverte-se Keyla/Antonia.
- Quero que você volte! É uma ordem!
- Voltar pra onde?
- Pra onde você era soberana, e eu seu maior súdito, seu farrapo submisso. Volta praquela putaria gostosa, sabor cu fornicado, exalando lubrificante de uva vencido… ai, meu coração… 
- Calma, olha essa safena, vai ter um ataque!
- Volta pra vida, Keyla!
- É Antonia. E vê se não me complica.
- Volta pra vida, Antônia, Keyla, Cassandra, Jurema… seja lá qual for seu nome, o meu nome é desejo! Desejo!
- Vou desligar, com licença…
- Que frieza é essa? Cadê a dengosa, fluffer oficial das minhas horas vagabundas?
- Casou.
- Como?
- Keyla casou e voltou a ser Antônia, soube não?
- E como fica o velho Coco Bongo sem você? Como viverei?
- Menino, que eu saiba o Coco vai bem. E você continuará vivendo com sua mulher, a santinha. Como ela tá?
- A nega tá bem, mas será sempre uma brisa cálida diante do furacão Keyla.
- Hahaha… pois vivam felizes, assim como eu e meu fofucho.
- E quem vai me satisfazer? Volta pra vida, Keyla, imploro.
- Certeza que você vai arrumar alguém pra depilar seu cu enquanto mata umas xiboquinhas – abaixa a voz - Olha eu falando essas asneiras, vai que me ouvem.
- Quero você – a voz suplicante de Abílio enfraquece.
- Mas eu não faço mais o que fazia. Sou de um homem só agora.
- Como pode Keyla, a rainha das multidões, querer ser de um fofucho só?
- É porque eu amo você, meu amor.

Abilio se cala na linha. Ressurge instantes depois cheio de cólera.

- Que merda! Você saiu do personagem bem na hora em que eu tava aqui com a rola dura feito um toco de copaíba da Amazônia. Brochei.
- Porra, você cria enredos muito complexos. Fica difícil ser sua mulher e me fingir de puta que finge que é uma mulher direita que é ex-puta.
- Não! Tá errado! Tá vendo? Você não presta atenção. Vou explicar melhor: você é uma mulher direita fingindo ser puta que se faz de mulher direita, mas na verdade é uma ex-puta que continua sendo puta mesmo se fazendo de mulher direita. Ficou claro?
- Ai, Abilio, volta pro teatro e me deixa trabalhar. Já não tô dando conta dessa pilha de processos e ainda tenho que aturar sua sandice no meio da tarde.
- Tá saindo do personagem de novo.
- Abilio, a secretária ao lado fica me ouvindo falar de xiboquinha e cu depilado em pleno expediente. Quer que me mandem embora?
- Que secretária? Era pra você estar no Coco Bongo.
- Como Coco Bongo? Se eu sou mulher direita fingindo ser puta que se faz de mulher direita, posso muito bem ser advogada.
- Você não entendeu. Vou ter que explicar de novo.
- Xiii… tô com outro cliente na linha, peraí.
- Não, é rápido! Jadílson, me escuta! Jadílson, taí?

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