- Você não queria uma relação aberta? Vai
lá, pega quem quiser.
- Como se assim fosse fácil.
- Juca, tô me expondo publicamente à
traição, sou a mártir da minha produtora, mas deixa eu garantir a grana do
reality.
- E se eu não conseguir transar?
- Tudo bem, a gente recebe a grana do mesmo
jeito.
- Como vou pegar alguém vestido com roupas
medievais?
- Do período elisabetano, na real.
- Que seja!
- A condição é essa.
- Digamos que eu saia pra almoçar sozinho.
Tenho que usar?
- Se vai ter mulher no recinto, sim.
Quantos romances não começaram em um esbarrão de bandejas de self service?
- Nem você tá levando a sério.
- Precisamos de conteúdo! Vamos estar sendo
filmados. Você pega quem quiser, desde que esteja vestido de Conde de Frou Frou,
e eu estarei de roupas normais porém com chifres. Que tal?
- Não sei quem tá pior.
- Foda-se as roupas. Mostra a sua lábia.
- Até peruca eu vou ter que usar.
- Sim, e pó de arroz. Aproveita que o verão
nem tá tão forte.
- Se eu arrumar um encontro pelo Tinder, por
exemplo, como vou explicar?
- Já te passei a pauta: você é herdeiro do
conde Frou Frou e recebeu a fortuna sob a condição de vestir as roupas
tradicionais do conde, passadas de herdeiro para herdeiro desde 1600.
- Claro, muito verossímil.
- O Conde de Frou Frou original era um
homem excêntrico.
- Então além de tudo vou ter que me fazer
de rico?
- É o que tá na sinopse do programa.
- E quando eu for a uma balada ou ao show
do Criolo? Vão me impedir de entrar assim.
- Deixa de ser besta, São Paulo é a terra
do cosplay. Só não esquece que em eventos você terá que levar seu séquito.
- Séquito?
- Sim, dois trombeteiros para anunciar a
sua entrada e um menestrel.
- Hahahaha! Não fode.
- Ué, teoricamente você vive em outra
época. Tem que agir como tal.
- Escuta, se vou ser conde, logo vou ser
monarquista, correto?
- Bom, sim, mas não precisa entrar no
território politico, se não quiser.
- A república vindo abaixo e eu não vou me
posicionar?
- Excêntricos vivem em um mundo paralelo,
não se engajam em nada.
- Sei, vou ser da monarquia festiva, né?!
- Boa.
- Não viaja. Quem vai querer dar pra um
monarquista? A direita nem transa, muito menos a “nobreza”, imagino eu.
- Olha o preconceito.
- Se eu vou passar ridículo e ficar na
seca, quero uma contrapartida sua.
- Contrapartida? Já vou pagar de corna pra
nação!
- É voluntário, um experimento, portanto não
vai estar sendo enganada.
- Como se a audiência da MTV tivesse esse
distanciamento crítico.
- Podemos desistir. Foda-se o dinheiro.
- Vai, fala o que você quer.
- Apimentar a relação.
- Uhm?
- Cuzinho por dois meses.
- Haha… meu cu nem aguenta, querido.
- Ok, cuzinho e espanhola alternados.
- Que machistinha sórdido!
- Tô tentando comprar seu empoderamento com
o dinheiro do reality.
- Se eu topasse, se vestiria de nobre na
hora de…?
- Pode ser.
- Hmm… Conde de Frou Frou, o nobre
empalador?
- Já tô indo buscar o traje.