terça-feira, 3 de outubro de 2017

Pelados no parque


Parque do Ibirapuera: duzentas pessoas nuas se reúnem em ato contra os ataques conservadores ao MAM.

- O que é isso na sua barriga?
- Que te interessa, cara? Presta atenção no protesto.
- Parece um…
- É uma pinta. Tá esclarecido?
- Não, não é pinta não – vira-se para o pelado da fila ao lado – Tavares, isso aqui parece uma pinta?
- Eita, é bom se ligar porque pode ser um câncer – opina Tavares.
- Eu nem conheço vocês. Que invasão é essa?
- Desculpa. Eu sou o Vanderlei, ele é o Tavares e isso na sua barriga é um bagulho bem estranho.
- Olha, eu não devia, mas vou explicar: isso é um terceiro mamilo que…
- Ah, eu sabia! Paga a aposta, Dulce – dirige-se à pelada logo atrás.
- Deixa eu ver, deixa eu ver! – ultrapassa Vanderlei, desorganizando a fila – Ai, que exótico!
- Vocês nunca ouviram falar em herança atávica?
- É o quê?
- Meus avós eram primos de primeiro grau. Então rolam pequenas mutações na família. Minha tia, por exemplo, tem seis dedos.
- Ela taí? – empolga-se Dulce.
- Mano, não deixa as criancinhas verem isso – adverte Vanderlei.
- Deixa de ignorância. Isso é herança genética, natural como um corpo nu.
- Porém mais repugnante.
- Teu cu!
- Ih, o três tetas partiu pra ignorância – afasta-se Tavares, chateado.
- Eu tô sendo discriminado em um ato contra a intolerância. Surreal!
- Sossega aí, o cara do autofalante tá apontando pra gente.
- Você aí das três tetas, bora alinhar essa fila – ordena a voz metálica, provocando uma onda de olhares curiosos sobre o mamilo incomum.
- Só no Brasil mesmo - susurra Três Tetas, contrariado.
- Não olha pra mim – defende-se Vanderlei – Essa tua teta pode ser vista até da lua.
- Eu nem gosto de ficar pelado – resmunga Três Tetas - Saí cedo do trabalho porque a causa é justa.
- Pois eu vim porque tenho tesão em ficar pelado. Não notou?
- Notou o quê? Puta que pariu, vira esta vara para lá, olha as crianças!



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