sexta-feira, 15 de setembro de 2017

Crítica social foda


- Olha isso: “todo dia o governo esporra na nossa cara enquanto permanecemos impassíveis”.
- Que é isso, Mari?
- É o Cauê falando bosta no face logo cedo.
- Tentou fazer uma crítica social foda e ficou cômico.
- Ele se apropriou do abuso do doido do ônibus, o que gozou no pescoço da moça.
- E ficou ridículo demais pra gerar revolta.
- Nem é isso, Flavio. É que essa luta é feminista e ele não pode descontextualizar, pagando de vítima. É oportunismo.
- Até porque, em certos casos, pode ser um ato de amor. Estaríamos estigmatizando quem curte tomar gozada na cara. Não de um estranho no ônibus, claro, mas…
- Já tá falando merda.
- Não tô endossando, Mari, mas o Cauê deveria escrever assim: todo dia o Governo esporra na nossa cara sem consentimento. Só que aí perde o frescor, né?!
- Frescor?
- Sim, fica rebuscado.
- Você já mudou o sentido da discussão completamente. 
- Eu não tenho nada pra falar sobre feminismo.
- Muito menos a me ensinar.
- Sim, tô só refletindo sobre frases revoltadas com temática sexual.
- Ai, como você é pedante.
- Era mais fácil ele ter dito: todo dia o governo coloca na nossa bunda…
- Mas não estaria pagando de antenado com a causa alheia.
- Se você fala: meu chefe não quis pagar minha indenização mas eu botei na bunda dele, você mandou ver.
- Justo, mas se você diz: meu chefe não quis pagar minha indenização mas eu esporrei na cara dele, fica só gay, porque o povo ainda leva de forma literal.
- Sim, vão pensar que você teve um surto psicótico.
- É babaquice heteronormativa, Flávio. Botar na bunda é forte, tipo submeter, já esporrar na cara tá no campo da perversão, é safadeza.
- Se o Cauê passasse um tempo nos Estados Unidos, iria voltar falando: todo dia o Governo nos obriga a beijar seu rabo.
- Não consigo falar nada sério com você, Flávio.
- Sem perceber que lá isso até pode ser uma ofensa, mas aqui talvez soe carinhoso.
- Carinhoso?
- É.
- Pensando bem, prefiro essa metáfora à da ejaculada.
- Cauê tem razão, o Governo anda muito pervertido com o cidadão.
- É, daqui a pouco tá mandando um fist fucking, uma golden shower. E a gente lá, de boca aberta.
- Comenta aí no post do Cauê: todo dia o Governo nos faz um fio terra, apalpa nossa próstata, dá tapão na bunda, goza na cara, vira pro canto, não dá boa noite, nem chama no zap no dia seguinte.
- Hahaha… todo dia o Governo nos sevicia com roupa de vinil e chicote. Melhor assim?
- Besuntando a gente em queijo catupiry e entumescendo nossos mamilos com a língua de um anão.
- Eita! Continua, governão da porra, vai.
- Tá sem limites esse Governo.

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