quarta-feira, 11 de julho de 2012

Laura decide partir


- Não sei que força magnética é essa que influencia os casais dessa cidade. Aqui a solidão parece mais assustadora.
- Essa força chama-se dependência financeira, querido. Também conhecida como covardia.
- Laura, larga essa mala e olha pra mim: você acha que tá sendo leal comigo?
- Rodrigo, deixa de cinismo! Só vivemos juntos por falta de grana. Mas tudo tem um limite, cara.
- Muito conveniente! Você arruma um emprego, vai morar com seu amante e me deixa desempregado com as contas pra pagar.
- Amante? Hahahahá! O Alejandro é MEU NAMORADO! E você devia arrumar alguém também. Quem sabe a felizarda não divide as despesas contigo?
- Pensei que pelo menos fôssemos amigos, mas me virar as costas nesse momento... e por causa de um sujeito chamado Alejandro, é ridículo demais!
- Ridículo é você! Já sofri muito com seu comodismo. Temos que assumir nossas próprias vidas.
- “Assumir nossas próprias vidas”? Leu isso no facebook? Você era um trapo há meses atrás, quando EU segurei sua onda.
- Rô, nós dois éramos trapos quando nos separamos! Só que você continua nessa. Não evolui!
- Tá confiante agora porque aquele fresco resolveu te assumir?
- Ninguém me “assumiu”, seu recalcado! Cruzes, que vocabulário idoso é esse?!
- Alejandro é uma fraude! Um skatista de trinta anos que ganha a vida num bistrô não pode ser encarado como homem de verdade. Desculpe.
- E você, pode? O que faz da vida além de beber, fumar e procurar vaga de emprego no twitter? Quais são seus planos para hoje? Me conta!
- Bom, à tarde vou ver uma exposição de maquetes no metrô Tucuruvi, depois vou à gibiteca da Vergueiro. Me disseram que lá tem umas coisas raras do Flash Gordon.
- Nossa! Imperdível, hein!? – ironiza Laura, com sorriso amargo.
- Enquanto isso o Alejandro deve estar servindo mini alcachofras com vinho rosê no bistrozinho. Ele sim tem uma vida fascinante! – rebate Rodrigo, cheio de rancor.
- Suas piadas com o Ale já perderam a graça. Agora soam apenas como inveja.
- Batatinha, agora é sério: larga essa merda de mala aí!
- Não me chama assim! Sem intimidades daqui pra frente.
- Já sei! Temos um quarto livre, não temos? Eu durmo nele e você e o Alejandro ficam com o maior! Meu orgulho sairia ferido, claro, mas o aluguel ficaria mais baixo. Que tal?

Laura fita Rodrigo boquiaberta. Nas horas tensas, nunca sabe se ele está brincando. Diante da sincera expectativa do ex-namorado, se retorce de desgosto.

- Ah, tenha dó! Acha que o Ale iria topar? Ele não é duro não, viu?!
- Então me leva junto! Qualquer cantinho tá bom.
- Rô, para de se rebaixar. Assim você me corta o coração.
- Deixa pra ir outro dia. Olha lá fora, vai cair uma tempestade!
- Por que você faz isso comigo?
- Não chora, batatinha... vem cá... larga essa mala e deixa de bobagem. Isso, muito bem.