- Não sei que força magnética é essa que influencia os casais dessa cidade. Aqui a solidão parece mais assustadora.
- Essa força chama-se
dependência financeira, querido. Também conhecida como covardia.
- Laura, larga essa
mala e olha pra mim: você acha que tá sendo leal comigo?
- Rodrigo, deixa de cinismo!
Só vivemos juntos por falta de grana. Mas tudo tem um limite, cara.
- Muito conveniente!
Você arruma um emprego, vai morar com seu amante e me deixa desempregado com as contas pra pagar.
- Amante? Hahahahá! O
Alejandro é MEU NAMORADO! E você devia arrumar alguém também. Quem sabe a
felizarda não divide as despesas contigo?
- Pensei que pelo
menos fôssemos amigos, mas me virar as costas nesse momento... e por causa de
um sujeito chamado Alejandro, é ridículo demais!
- Ridículo é você! Já
sofri muito com seu comodismo. Temos que assumir nossas próprias vidas.
- “Assumir nossas
próprias vidas”? Leu isso no facebook? Você era um trapo há meses atrás, quando EU
segurei sua onda.
- Rô, nós dois éramos
trapos quando nos separamos! Só que você continua nessa. Não evolui!
- Tá confiante agora
porque aquele fresco resolveu te assumir?
- Ninguém me “assumiu”, seu recalcado! Cruzes, que vocabulário idoso é esse?!
- Alejandro é uma
fraude! Um skatista de trinta anos que ganha a vida num bistrô não
pode ser encarado como homem de verdade. Desculpe.
- E você, pode? O que
faz da vida além de beber, fumar e procurar vaga de emprego no twitter? Quais
são seus planos para hoje? Me conta!
- Bom, à tarde vou ver
uma exposição de maquetes no metrô Tucuruvi, depois vou à gibiteca da Vergueiro.
Me disseram que lá tem umas coisas raras do Flash Gordon.
- Nossa! Imperdível,
hein!? – ironiza Laura, com sorriso amargo.
- Enquanto isso o
Alejandro deve estar servindo mini alcachofras com vinho rosê no bistrozinho. Ele
sim tem uma vida fascinante! – rebate Rodrigo, cheio de rancor.
- Suas piadas com o
Ale já perderam a graça. Agora soam apenas como inveja.
- Batatinha, agora é
sério: larga essa merda de mala aí!
- Não me chama assim! Sem
intimidades daqui pra frente.
- Já sei! Temos um
quarto livre, não temos? Eu durmo nele e você e o Alejandro ficam com o maior! Meu
orgulho sairia ferido, claro, mas o aluguel ficaria mais baixo. Que tal?
Laura fita Rodrigo boquiaberta.
Nas horas tensas, nunca sabe se ele está brincando. Diante da sincera expectativa
do ex-namorado, se retorce de desgosto.
- Ah, tenha
dó! Acha que o Ale iria topar? Ele não é duro não, viu?!
- Então me leva junto!
Qualquer cantinho tá bom.
- Rô, para de se
rebaixar. Assim você me corta o coração.
- Deixa pra ir
outro dia. Olha lá fora, vai cair uma tempestade!
- Por que você faz
isso comigo?
- Não chora,
batatinha... vem cá... larga essa mala e deixa de bobagem. Isso, muito bem.
Um comentário:
Não pára não, véio.
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