Vinicius, acompanhado pelo pai e o advogado, aguarda na porta do gabinete do juiz. Ao ver entrar um senhor de bata psicodélica e maquiagem, faz piada:
- Que é a mocreia?
- É o juiz Epaminondas Teixeira – esclarece o advogado.
- Eita! Não vou ser julgado por traveco não – revolta-se o réu.- Meu filho, ele é um juiz mais brando, que aplica pena alternativa.
Convidado a entrar, o réu endireita a coluna e faz uma saudação para a câmera de segurança com o braço esticado:
- Heil
Hitler!
- Menine, abaixa o bracinho e senta aqui – repreende o juiz travestido sentado à cabeceira da mesa.
- Cadê a roupa preta? Quero um juiz homem, branco e hetero!
- Olha, vou ignorar seu descontrole porque tenho manicure daqui uma hora e não quero perder tempo.
- Meritissimo juiz… - inicia a audiência o
advogado.
- Juiza – interrompe o magistrado.
- Como?
- Juiza Epaminondas Teixeira.
- Juiza? – indigna-se o réu - Não é porque a sua piroca é murcha que ela
deixa de existir.
- Murcha, mas livre... e vai foder você - devolve a juíza.
- Murcha, mas livre... e vai foder você - devolve a juíza.
- Vini, cala essa boca! – desespera-se o
pai.
- Senhor advogado, consta que o seu cliente
fez apologia de ideias nazi-fascistas em área pública, incitando ao racismo e à
homofobia com injúrias verbais, como afirmam testemunhas, procede?
- Sim.
- No entando, ainda é réu primário.
- Sim, Meritíssimo… ou melhor, Meritíssima.
O réu assume as acusações.
- Pela violação do artigo vinte da lei sete
mil setecentos e dezesseis, condeno o réu a aprender a técnica de criação de
terrários e vender as peças na feira de artesanato do Bixiga durante um ano,
revertendo a renda para ONGs LGBT.
- Oi? – surpreende-se o réu.
- Sem multas, Meritíssima?
- O pai dele paga o curso e tá tudo certo.
- Eu não vou fazer merda de terrário
nenhum, sua bichona! Nem sei que porra é essa! Me dá
uma punição de macho, ou cesta básica, sei lá!
- Pelo desacato, prorrogo a sentença por
mais seis meses de exercício diário da nobre arte da produção de compotas, auxiliando os
idosos do Lar Ricardo Coimbra.
- Compotas?
- Conservas, meu filho – esclarece o pai.
- Esse viado quer me fazer passar vergonha!
– revolta-se – Quero condenação brutal!
- Não se satisfez? Então também condeno a sete meses de vendas diárias de alfajor vegano na Praça Roosevelt, com cem por cento dos ganhos doados ao Movimento Negro.
- Mas Meritíssima… como se faz alfajor
vegano? – questiona o advogado.
- Alfarroba, capim santo… não me diz respeito. Estipulo
que a pena comece a ser cumprida imediatamente.
- No seu cu é onde vou enfiar o alfajor, entendeu? No cu!
Guardas conduzem o réu para fora do
recinto, enquanto o pai tenta consolá-lo com uma promessa:
- Vini, vou tentar conseguir ao menos uma
semana de solitária pra você.
- A todos os presentes: gratiluz – encerra a
audiência a juíza.